terça-feira, 28 de novembro de 2023

Well, I'm Still Fond of You

refaço o caminho 
através de estradas já visitadas 

contorno as mesmas montanhas
e rios
e sorrisos
e abraços
e gestos 

persisto, pois me ensinaram assim 

o que fui já não está lá
e o que busco parece ainda mais distante 

[...]

caminhar a vida através de sombra e memória 
que diferença isso faz?

sábado, 31 de dezembro de 2022

noites de dezembro

é na escuridão que vemos estrelas

é no esforço colossal de viver

que repousa minha existência.


olho para o céu e me pergunto

se estarei ao seu lado.

domingo, 5 de abril de 2020

Cecília

A minha vida é feita de pequenos milagres.

Eles não acontecem sempre.

Eles acontecem cada vez menos.

eu luto por esses pequenos milagres
eu luto por esses momentos
eu luto por tudo aquilo que restou
tenho lutado por cada minuto da minha vida a ponto de esquecê-la
de não saber onde estive ou o que fiz desde que...

Eu ainda não sei se abandonei o que eu era
ou se me engano sobre quem sou agora.

É uma estrada diferente de tudo o que conheço
Mas sei que há algo errado no final do caminho.

O sol esbarra nas minhas mãos vazias
e isso já significou algo

um dia.

domingo, 1 de dezembro de 2019

O lobo e a ursa

Você costumava escrever para mim desde pequena
Acredito que nunca lidei bem com isso
Aliás, não venho lidando bem com as coisas já faz um tempo

[me desculpe se feri alguma parte do seu coração]

Você costumava perguntar como iam as coisas agora que eu estava tão longe

Bem, passei por tempos difíceis
Mas as coisas melhoraram de uns anos pra cá
Você sabe, não há muito o que falar quando escapamos de lugares assim

Mas há muito a falar sobre você

Sei que não é o momento
Mas quero que saiba que me lembro
Quero que saiba que penso nas palavras que sustentaram o seu doce espírito

E espero  que você tenha visto o melhor do mundo antes de partir.

Durma bem, pequena ursa.

domingo, 9 de dezembro de 2018

If you can't give me flowers while I'm livin'

luz, ela me disse.
passei a carregar seu recado em meu peito
assim como carrego o brilho já faz algum tempo
[sim, sim, eu sei.
eu me lembro]
.
.
.

ando pelo mundo procurando girassóis
<aqueles selvagens e livres e viscerais>
cada pétala me lembra você.

[então verei flores
onde já não vejo vida]

há estacas que apontam para o meu coração
mas algo me diz que deixaram de avançar
resta saber se ainda consigo me mover aqui dentro
me empreste um pouco de espaço
me empreste um pouco do seu quintal
um pouco
não é muito
o que peço
o que sinto
o que quero
a memória resiste e isso cicatriza os pés descalços
e assim caminho
pelo sertão da minha solidão.

Mergulho

Repouso meu corpo e deixo o espírito ser levado pelas paisagens
minha mente penetra lentamente na imensidão da memória
e nado e nado e nado contra a
corrente
de tudo aquilo que quero varrer.

A vida não é muito diferente de uma estrada
na qual deslizo
<quesejadoce><quesejadoce><quesejadoce>
até que deixe de ser
e afunde
como o escafandro que me protegia.

Espero
Pois sei que é difícil sorrir com o peso da alma.
[é lento e desastroso
esse negócio de andar nos próprios cacos]

A ferida abriu
escolhi sangrar
Não gastarei a vida traduzindo o meu espírito.

Há uma loba gemendo incêndios
E esse caminho costumava me levar para outro lugar...

sábado, 24 de novembro de 2018

Barbearia

Você caminha por uma estrada
na qual não há pássaros
nem cores
o cheiro das folhas já não é o mesmo
e é inútil tocar o solo com os pés descalços.

Seu corpo balança lentamente em direção ao nada
e há uma nostalgia
de vidas que você nunca
viveu.

Nesse exato instante o escorregar da navalha em direção ao seu pescoço não parece uma ideia tão

assustadora

[é quase uma lembrança bonita
bem como a da tua primeira mecha]

Não volte.
Não há nada para você aqui.
Nem em lugar algum.